Howard, o Pato
Howard, o Pato (Howard the Duck no original) é um personagem de HQs criado por Steve Gerber para a editora Marvel Comics. Sua série mostra as desventuras de um pato humanóide de péssimo temperamento que está preso num mundo dominado por humanos. As histórias de Howard são geralmente paródias de filmes de ficção científica e fantasia, contando com um texto afiado e combinando experimentações bastante em metalinguagem. Em 1986, a Lucas Arts Films produziu um filme sobre o personagem.
Publicação
A década de 1970 foi na verdade uma grande transição da alegria colorida, das revoluções (sexual, feminista, étnica…), do psicodelismo da década de 1960 para os decadentes anos 80, no qual tais revoluções perderam seus sentidos. Como o “irmão do meio”, os “70” ainda conservavam muito da psicodelia da década anterior, agora readaptada a um novo contexto social e oferecida para o consumo. Um ambiente além da transparência política, afinal é de um mundo pós-Vietnã que estamos falando. É claro que tais mudanças sociais, cedo ou tarde, acabariam se manifestando nos quadrinhos. Foi exatamente isto que aconteceu
Personagem
Criado por Steve Gerber para ser coadjuvante em uma série de histórias apresentadas na revista Homem-Coisa, Howard era uma espécie de versão adulta do Pato Donald. Até o típico mau humor do amigo do Mickey Mouse estava presente em seus diálogos e suas breves aparições acabaram por chamar a atenção dos fãs, o que resultou no lançamento de sua própria revista em janeiro de 1976, com direito a uma participação especial do Homem-Aranha. Howard é oriundo de outra realidade. Sua passagem para a dimensão dos heróis Marvel se deu literalmente por um acidente de percurso. Recrutado pelo mago Dakimh para ajudá-lo a derrotar um inimigo, acabou caindo em um abismo interdimensional e foi parar em Cleveland, onde tenta desesperadamente se tornar um herói e assim ganhar um emprego na polícia, a partir daí começam as aventuras do personagem. O escritor e criador de Howard, Steve Gerber, tenta a todo momento demonstrar o quanto o personagem é diferente do meio que o circunda, desde a aparência física ao modo de pensar, fazendo com que tudo passe a ser estranho aos olhos do Pato e, conseqüentemente, ao dos leitores. Ainda se aproveitando deste ponto de vista diferenciado, o escritor destila uma série de comentários/críticas sobre a realidade social norte-americana da década de 1970. Assim assuntos como religião e política eram criticados através de situações esdrúxulas, mais ou menos como os Simpsons fazem hoje em dia. Um dos grandes charmes da série original do personagem (principal fonte de sua fama) eram os vilões, pois Gerber usava e abusava de sua criatividade na hora de elaborá-los. Assim o público foi brindado com verdadeiras pérolas como Pro-Rata, o mago financeiro (sátira ao empresários de Wall Street) ou o Reverendo John Moon Yuc (uma sátira ao reverendo Moon e sua Igreja da Unificação). De todos, o que mais se destacou foi o famigerado Dr. Bong uma espécie de cópia do Dr. Destino, porém com o diferencial: utilizar uma máscara em forma de sino que também era usado como arma. Da mesma maneira que o Homem-Aranha tinha Mary Jane e Superman, Lois Lane, Howard tinha Beverly, uma jovem ruiva apresentada aos leitores já na primeira edição da série mensal. Gerber sempre tomou um certo cuidado com a relação de ambos os personagens e por vezes até insinua que algo mais entre os dois do que simples amizade. Bervely inclusive é a razão do ódio de Dr. Bong por Howard, Bong é apaixonado pela companheira de Howard, chegando a obrigá-la a se casar com ele para salvar a vida do Pato em uma das edições da revista.
Gerber criava roteiros rápidos e dinâmicos, geralmente se prendendo a histórias curtas e auto-suficientes, ou seja, não espalhava a conclusão por diversos números da revista. É claro que fez algumas concessões em relação a isto, como no caso do já citado casamento de Beverly e Dr. Bong ou na candidatura de Howard à presidência do EUA, arco este que contou com a participação dos Defensores (na época constituídos por Falcão Noturno, Dr. Estranho, Valquiria e Hulk). Mas mesmo assim as histórias de Howard não tinham um eixo central, como por exemplo a dos X-Men, as coisas apenas aconteciam com os personagens de forma bastante semelhante ao formato da série de TV Seinfeld. Se isto não bastasse a revista ainda contava como desenhista regular, ninguém menos que Gene Colan.
O roteiro desafiador e a narrativa original de Howard não tardaram a conquistar uma gama de fãs dotando-o de certa notoriedade. Tendo em vista este cenário, Steve Gerber entrou na justiça contra a Marvel exigindo os direitos do personagem, alegando algumas violações legais por parte da editora. O processo se arrastou através dos anos e Gerber, decepcionado com o tratamento que vinha recebendo, resolve abandonar a revista na edição de número 29. Bill Mantlo assume seu posto e tenta dar continuidade à revista, no entanto as vendas já não eram tão satisfatórias quanto as de outrora e os editores da Marvel resolvem descontinuar a revista na edição 31.
Ainda assim o personagem possuía uma legião de fãs sedentos por novas histórias. Percebendo isto, meses mais tarde é lançado Howard the Duck em formato magazine (igual ao das primeiras Paninis), em preto e branco e de peridiocidade bimestral. Nesta revista o roteirista Bill Mantlo resolveu apostar em uma abordagem mais aventureira para o personagem deixando a paródia social em segundo plano, o que não parece ter agradado aos fãs de Howard. A revista durou apenas nove edições.
O fim da revista bimestral do personagem o colocou na geladeira por quase dois anos até que a revista Bizarre Adventures #34 trouxe uma curta historia do personagem escrita por Steven Grant, onde um deprimido Howard prestes a cometer suicido acaba sendo salvo por um anjo. Após a historia o personagem caía novamente no limbo editorial da Marvel, e ali teria continuado se não fosse por Hollywood.
Impulsionado pela exposição do filme, a Marvel resolveu dar mais uma chance ao personagem ressucitando a sua antiga revista mensal – até a antiga numeração foi mantida – agora sob a batuta de Steven Grant. O retorno do público foi muito aquém do esperado e no segundo número o escritor foi substituído por Christopher Stager e Val Mayerik, outro fracasso retumbante. Logo a revista do personagem foi cancelada em definitivo no número 33
Outras mídias
Em 1986 chegava aos cinemas americanos Howard the Duck, produzido por George Lucas e dirigido por Willard Huyck (Indiana Jones). O filme conseguiu ser unanimidade entre a critica o público em geral: todos o odiaram, embora hoje em dia exista uma pequena legião de pessoas que cultuem este filme. Esta foi a primeira aparição do personagem por estas bandas (excetuando-se uma breve aparição em uma história do Coisa), tanto que diversas pessoas não sabiam que se tratava de um personagem de quadrinhos. Status
As primeiras histórias de Howard serviram de inspiração para toda uma geração de artistas, principalmente no meio underground. Um dos casos mais perceptíveis deste fato foi a reformulação do Byrne da Mulher-Hulk, onde as referências a série original do pato eram tantas que, quando o Byrne resolveu deixar a revista, os editores da Marvel resolveram chamar Steve Gerber para o seu lugar. O escritor aproveitou a oportunidade para tirar sua criação máxima do ostracismo editorial e trouxe Howard para um arco de história. O roteiro, um confronto entre a dupla e a raça conhecida como os críticos, uma espécie de vigias que criticam os eventos que observam. Desnecessário dizer que os fãs do personagem adoraram.
Nos anos 90, Howard ganhou status de cult e tinha algumas aparições esporádicas como em Spider-Man Team-up. Mas o que fez com que seu nome voltasse a circular foi uma aparição na revista Geração X, em que o personagem aparecia como um motorista de caminhão, tudo isto graças a uma intervenção do desenhista Chris Bachalo, fã declarado do personagem. O sucesso foi tanto que mais tarde o personagem estreou uma minissérie ao lado de Franklin Richards e Homem-Coisa intitulada Daydreamers. Após isso o personagem só voltou recentemente em outra minissérie do selo Max, escrita por Steve Gerber. A história contida na revista ignorava qualquer coisa publicada após o número 29 da revista mensal do personagem (segundo o próprio escritor) e foi considerado como um dos materiais mais perturbadores lançados pela Marvel. A série recebeu algumas criticas muito boas, porém não teve um retorno de público suficiente para justificar uma nova revista mensal.
Comments